terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Ô CRIANÇAS, ISSO É SÓ O FIM.


Afe, tô me sentindo uma tia velha. Uma Senhora de Santana. Na verdade, não tô entendendo mais nada. Tava vindo de Guarulhos, de manhã, e passando em frente ao Shopping Internacional Guarulhos, tá lá um cartaz gigante anunciando um filme. “Os Porralokinhas”. Tava meio sonolento, li “Os Porralokinhas”, passou batido, depois caiu a ficha. “OS PORRALOKINHAS”. Com letrinha cheia de movimento e colorida, pra criança. Me virei pra tentar ver de novo, mas o ônibus já tinha passado bastante do shopping. Fiquei com isso na cabeça, “Os Porralokinhas”. Pensei, não é possível. Cheguei na agência, procurei no Google, tava lá, Os Porralokinhas, dirigido por Lui Farias. Mas porra, PORRA não é palavrão? Liberou? Quer dizer, pra criança pelo menos? Eu falo porra pra caralho, aliás, eu falo muito palavrão, mas não é estranho um filme pra criança chamado Os Porralokinhas? Eu não sou um cara moralista, aliás, sou bem imoral, e nem sou defensor dos bons costumes tbm, até porque me comporto mal, encho a cara de vez em quando, já fumei maconha, já briguei, pego a mulherada... mas meu, “OS PORRALOKINHAS??” Dia desses tava numa praça e tava uma música sendo cantada, tocando no cd na maior altura por um bando de criança. “Tudo o que é perfeito a gente pega pelo braço, bota ela no meio, mete em cima mete em baixo. Depois de nove meses você vê o resultado.” Quer dizer, EU já fiz vááááárias vezes essa parada aí, inclusive curto muito, pegar ela no meio e meter em cima e... enfim, não importa, mas pô, um bando de criança cantando é foda! Outra vez tava passando em frente à um açougue, lá no meu bairro, e tava tocando na maior altura: “Tem que fazer valer, fazer valer, fazer valer na cama, tem que fazer gostoso, pro gozo virar lama.” Como assim??? Pro gozo virar lama??? Bela trepada, mas assim, na rua, na maior altura? Cheio de criança na rua? Fui pensando nisso a caminho de casa, pensando “ainda bem que não tem nenhum sobrinho meu aqui”, e quando eu chego em casa, minha sobrinha tá vendo o DVD!!! Calcinha Preta, o nome da banda! Com uma mulherada dançando no palco, dando uma abaixada que nem se eu pagasse em ouro eu conseguiria uma abaixada daquelas. Mulherada bem gostosa, diga-se de passagem. Mas pô!!!! Minha sobrinha assistindo!! Pedi pra tirar. Juro, fiquei com vergonha. Pode até parecer, e pode até aparecer alguém que diga que isso é parulha moralista, mas alguém me dá uma luz, sério, pq eu não tô querendo dar uma de santo, mas não sei o que pensar. A molecada não deveria estar cantando ou dançando essas músicas. Aliás, isso de cd gravado com criança cantando essas merdas é culpa de produtor imbecil louco pra ganhar dinheiro, e pais filhos das putas que... querem ganhar dinheiro tbm, vendendo o filho. Outra vez tava no metrô, e me entra uma mãe com uma menina de uns 4 anos. A mãe de cara limpa, mas a menininha tava mais maquiada que drag queen em dia de passeata GLBT. Muito, muito, muito ridículo, e ainda fode com a pele da criança. E a mãe lá, achando lindo o batonzão vermelho na cara da menina. E na televisão tá lá as mães dizendo que não, que se não deixam, a criança faz birra, dá escândalo... tem que deixar fazer o que quer. Minha infância foi ducaralho, inclusive pq se eu quisesse fazer o que queria, ficava de castigo. E se insistisse, tomava logo um tapão, e minha mãe nem bateu muito na gente, eu e meus irmãos. Tomei uma surra só, que me lembro. E foi genial pq eu e meus amigos ficávamos tentando comer as menininhas da colônia, perto do sítio onde eu morava, sem sucesso, óbvio. E olha no que me tornei. Um imoral. Até acho que vai se tornar normal um dia as crianças falarem um monte de palavrão, como o “caramba”, por exemplo. Deve ter sido um absurdo um adulto falar “caramba” em certa época, acho que deveria ter sido um palavrão tbm, assim como “porrada”, derivada da própria porra. E hoje é normal. Ser pego no meio desse processo é que é muito louco. Ahh sim, Os Porralokinhas. Daí cheguei na agência, procurei no Google pensando “deve ter alguém detonando”. Mas não, tá beleza, todo mundo falando que é a melhor opção pras férias da molecada. Tomara que seja mesmo, tomara que seja um bom filme pras crianças, a indústria cinematográfica, da qual eu um dia pretendo fazer parte, agradece. Só sei que se eu chegar em casa chamando meus sobrinhos pra assistir Os Porralokinhas, minha mãe me põe de castigo. Mesmo com 31 anos bem vividos, imoralmente falando. E se eu insistir e disser que é a melhor opção pras férias da molecada, periga eu tomar um tapão. E vocês?

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

CARANGUÊJO BLUES


Fim de semana tava em Aracaju, a trabalho, e quando fomos jantar, a galera agitou de comer caranguejo. Firmeza, lá vamos nós. Depois de muito martelar a patinha do bicho pra extrair uma merrequinha de carne, fiquei pensando no primeiro cara que teve a idéia de comer um caranguejo. Deveria estar com uma fome da porra, sério, porque a parada é difícil, viu. Fico imaginando o sujeito andando há dias, só com uma garrafa, ou cantil d’água pra beber, um náufrago talvez, sei lá. Mas não tinha que ter nada pra comer, nada nada nada mesmo, nem mato, nem fruta, broto de bambu, zero. Daí então, brota o caranguejo da terra e o cara “ahhh, vai tu mesmo”. E outra, como ele fez pra comer também né? Porque hoje tem todo um aparato, os bichos vem com um martelo e uma pedra de mármore pra você descer o reio. Pei pei pei, martela martela martela, chupa a carne das pernas do coitado. O que já é bem estranho, já que comida normalmente vem com garfo e faca. Essa vem com um martelo e uma pedra. Isso hoje – imagina quando o primeiro cara resolveu comer um desses. Deve ter sido uma briga feia, viu, porque o bicho é bélico! Sério, se você não for na manha, ele te machuca, mesmo morto. A gente tava em 4, pedimos 8. É servido numa bandeja, vem com as patas todas pra cima, ameaçador mesmo, sem sacanagem. Casca dura da porra, e outra, tem uns espinhos na casca, se você pega ele meio sem jeito, ele te fura. “Se eles querem o meu sangue, terão o meu sangue só no fim”, é o lema do caranguejo. Morre atirando, macho pra caralho. Fora que ele vem te olhando nos olhos! Porque o bicho tem os olhos saltados normalmente, e quando o cozinheiro joga o bicho vivo na água fervente, deve saltar mais ainda, daí então estou eu arrancando a pata dele e ele olhando pra mim. Podia ouvir sua voz:
– Isso, safado. Arranca minha perna mesmo, martela minha pata. Você vai lembrar disso pro resto da vida. Meus olhos vão te seguir por toda a eternidade...
– Desculpa, senhor caranguejo, mas eu tenho que fazer a linha com o povo do trampo aqui!
– Politicians... the hell is yours.
O bicho deve ter evoluído pra caramba, deve ter elaborado sua carapaça pra se proteger dos predadores durante anos, e morre numa panela de água fervente, pra depois ainda ser martelado.
E isso eu tô falando das patas e da perna, hein, pq na hora de comer o corpo, é bizarro. E meu dupla falando normalmente:
– Tim, é assim: você abre o corpo no meio, mas tira esse negócio preto, porque é bosta. Depois tira esse negócio aqui, é o pulmão do bicho.
PORRA, BOSTA??? PULMÃO??? Tô fora. Na verdade, não vejo muito sentido em comer caranguejo, assim como não vejo sentido em comer um monte de outros bichos. Em casa a gente foi criado com Carne de vaca, porco, frango e peixe. Camarão, só comi na adolescência, que me lembro. Uma vez, depois de velho, fui comer prato com coelho, num restaurante. Não rolou, e eu morrendo de fome. Troquei o prato, pedi desculpa pra garçonete, paguei pelos dois. Cordeiro até vai tbm, ainda mais o do Jacaré, com um molho de hortelã que vem junto, bom demais viu. E outra, não tenho que tirar o pulmão dele pra comer. Quando você pede um bife, é um bife. Não dá pra associar muito com a forma viva do bicho, seja lá qual for. Uma coxa de frango talvez, mas uma bisteca com certeza não. Mas o caranguejo lá olhando pra tua cara enquanto você degusta sua pata, rapaz, tem que ter sangue frio. Comi meio só. Na verdade, comi duas patas e uma perna. Ainda bem que fui convencido a pedir um caldo de susuru também. Sauna individual via oral, o caldo de sururu. Bom que deu uma limpada no intestino, porque depois, de volta ao hotel, rapaz...