quinta-feira, 21 de maio de 2009

24 - DOIS CACHORROS


"Dentro de nós temos dois cachorros, um bom e um ruim. Se alimentarmos o ruim, seremos do mal. Se escolhermos o bom, seremos do bem." Quem disse isso foi a Narcisa Tamborindeguy, na revista Trip desse mês, em entrevista ao Arthur Veríssimo. Sempre que eu ouço esse nome, Tamborindeguy, eu acho que ele veio de algum francês que passou por aqui há muitos anos, chamado Guy - pronuncia-se Guí - e que tinha um tamborim, logo o tamborim dele, por ser diferente, ficou conhecido como o tamborim de Guy, logo, Tamborindeguy. É uma lógica meio germânica de se pensar, devido à minha educação européia, mas faz sentido, assim como Vanderlei - nome do meu primo, por acaso - veio de Van Deer Lay, sobrenome holandês, que foi aportuguesado lá pras bandas do nordeste, onde os gringos aportaram cheios da erva-do-capeta. Mas enfim, refletindo sobre a frase da Narcisa aí em cima, eu me vejo na obrigação de concordar plenamente com ela. A vida é cheia de escolhas, um caminho cheio de bifurcações, e se escolhermos o caminho da direita, vamos pra direita, e se escolhermos o caminho da esquerda, vamos pra esquerda. É como uma escada, em que se escolhermos subir os degraus, chegaremos lá em cima, ao passo que se escolhermos descer os degraus, chegaremos lá em baixo. E claro, se estivermos ao pé dessa escada e escolhermos não subir, lá mesmo ficaremos. Os budistas costumam dizer que a vida é como uma casca de laranja, e um dia, um grande mestre ao ser interpelado por um jovem monge que lhe perguntou "Como assim como uma casca de laranja, Mestre?", este lhe respondeu "Ôxe, num é não?", e ficaram os dois refletindo sobre isso à beira de um rio de águas diáfanas.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

23 - ESSA PARECE MENTIRA


Certa feita, quando eu tava fazendo espanhol, tava procurando um livro pra ler que estivesse em espanhol. Eu só tinha livros didáticos, queria um romance, algo do tipo. Meu irmão Humberto, na época, tinha acabado de ler Cem Anos de Solidão, do Gabriel Garcia Marquez. E minha amiga Patrícia já tinha me falado dele também, altas recomendações. Eu lembro que eu tava lendo uma história do Demolidor, heroi dos quadrinhos, e um dos vilões, o Mercenário, tava lendo O Apanhador no Campo de Centeio, de J. D. Salinger, um pouco antes de matar uma personagem do gibi, se não me engano, a namorada do herói. O cara que matou o John Lennon tbm tava lendo esse mesmo livro, é muito sinistra as histórias em que esse livro está metido. Passado alguns dias, eu estava lendo um outro gibi, Sandman, e no Sonhar, seu reino, um dos personagens tomava conta de uma biblioteca que tinha todos os livros que foram apenas pensados, e também os inacabados, e era mencionado um tal de G. K. Chesterton, tinha um livro dele lá que ele havia apenas pensado. Fiquei com isso na cabeça e fui pesquisar o autor, um inglês influente, tido como o mestre do paradoxo. Achei legal mas continuei minha vida, prometendo que se um dia encontrasse um livro dele, compraria.

Eis que um dia, passando pela Xavier de Toledo, tinha uma banca lá que era um sebo, não era uma loja, era só uma banca, mas tinha bastante livros. Cheguei e perguntei pro cara se ele tinha algum livro em espanhol, não didático, e sim um romance ou algo do tipo. Ele disse "cara, tá vendo aquela preteleira ali bem na frente? Aquele livro com a lombada grossa, branca ali, é um livro em espanhol, é o único que eu tenho, dá uma olhada lá". Fui lá ver. Era Cién Años de Soledad. Ao lado dele, grudado, estava O Apanhador no Campo de Centeio. E uns dois ou três livros depois, na mesma prateleira, estava O Homem que Era Quinta-Feira, de G. K. Chesterton.

Comprei os três.

Oito reais tudo.