domingo, 16 de março de 2008

11. 114kg - 21 DE MARÇO A 20 DE ABRIL


Ser ariano é tanto motivo de orgulho quanto uma sina. Orgulho porque tudo o que falam de arianos é verdade: somos líderes natos, agimos de maneira impulsiva mesmo, somos guerreiros, somos intensos, somos sinceros (não francos), somos independentes, somos justos. E é uma sina exatamente pelas mesmas coisas. Eu acho engraçado quando alguém pergunta de que signo sou, porque normalmente quando eu digo "sou de áries", a pessoa solta um "ishhhh", ou um "afffffee", ou até mesmo um "Deus me livre...", mas poucos na verdade entendem um ariano, acho que só nós mesmo nos entendemos. Porque, no final, como já fizeram nossa fama, acabamos aos poucos nos deitando na cama do imaginário popular. Mas acreditem, cada motivo de orgulho tem seu outro lado.

Como somos líderes, mas não líderes burocráticos, e sim os que tomam a frente das batalhas, sempre tomamos o primeiro tiro. Arianos são eternos buchas-de-canhão. Mas não caimos fácil, e mesmo tomando o primeiro golpe, nos sentimos felizes por termos protegidos o camarada que vem atrás. Mas que nos fodemos primeiro, é verdade.

Como somos impulsivos, as pessoas acham que agimos sem pensar. Mas não é: é que pensamos e tomamos decisões em uma pequena fração de segundo. E essa decisão, mesmo sendo pensada de maneira rápida, é absoluta: temos certeza da nossa convicção. E quando erramos, assumimos nossos erros com tanta impulsividade quanto tomamos decisões. "Eu errei" ou "eu assumo a culpa" são frases naturais quando realmente erramos, e essa naturalidade assusta e irrita, porque parece que estamos desafiando, tipo "eu errei, e aí?", mas não é; na verdade é "eu errei, eu me desculpo e estou pronto para aceitar uma punição justa." Quantas pessoas aceitam uma punição com naturalidade?

Como somos guerreiros, lutamos até o fim. Quando vencemos, vencemos e comemoramos. Mas quando somos derrotados, o que se vê é uma retirada orgulhosa, de cabeça erguida. Mas vocês não gostariam de ver a real imagem de um ariano derrotado. Não é que ficamos furiosos nem nada, pelo contrário. Como disse, lutamos até o fim, até exaurirmos nossas forças, até o fim da guerra. O que vocês acham que sobra no fim? Assumimos uma postura orgulhosa para proteger vocês dessa visão, pois só nós conseguimos suportá-la. Essa drama permanece interno, até porque temos consciência de, se formos ficar falando ou demostrar o que sentimos, vai ficar parecendo um dramalhão mexicano, e detestamos parecer melodramáticos demais. Temos senso do ridículo, quando é sério. No geral, somos bem palhaços.

Uma outra característica que sempre falam do ariano é o desinteresse repentino por alguma coisa: uma hora viramos as costas e saímos andando, deixando tudo pra trás. Mas o que não falam sobre isso é o seguinte: como somos guerreiros e lutamos até o fim, e quando finalmente algo chega ao fim, o que resta mais a fazer? Já falamos tudo o que tinhamos pra falar, já fizemos tudo o que tinha pra ser feito, tentamos de todas as maneiras, argumentamos, damos soluções. Se não adiantou, o que mais podemos fazer? Fim é fim. E fim.

Somos muito românticos, românticos incorrigíveis, e quando estamos a fim de alguém, deixamos isso bem claro e usamos de todos os argumentos e artimanhas pra conquistar essa pessoa, e às vezes até assusta, pois um encanto pode tomar proporções de uma graaaande paixão. E se for correspondido, vira mesmo, mas se não rola, é porque não tinha que rolar mesmo, certo? E daí largamos de mão, porque, afinal, nem a gente atura ficar enchendo o saco de alguém por muito tempo, ficamos nós mesmos de saco cheio. Algumas dessas pessoas ficam guardadas em nós, por uma série de fatores, e podemos nos apaixonar novamente por elas a qualquer momento de nossas vidas, mas outras ficam só na memória.

Somos tão intensos que eu acho até que arianos não reencarnam, embora eu li dia desses que são os piscianos que estão na última vida. Parece até que temos só uma vida, por isso a vivemos plenamente, porque quando ela chega ao fim, é fim. Amamos demais, festejamos demais, exageramos demais, falamos demais. E quando sofremos vocês acham o que? Que sofremos um pouquinho? Pois prestem atenção: quando sofremos, sofremos MUITO. Quando dói, dói MUITO. Quando choramos, choramos MUITO, até cansar. É que a gente não mostra por conta do dramalhão que eu falei lá em cima. E quando você liga pra um ariano que você sabe que tá mal, pra dar uma força e tal, e ele responde que "ahh, tô naquelas, meio mal ainda mas vai passar", pode ter certeza que estamos TÃO NA MERDA que não queremos nem ficar falando. Tudo em nós é potencializado, somos eternos adolescentes, e quando algo de ruim nos acontece, quando ficamos solitários, tristes, deprimidos, furiosos ou nos sentimos fracassados, tudo isso vem MUITO. Tanto que nem a gente mesmo aguenta, daí rapidinho damos um jeito de nos livrarmos disso.

Podemos até perdoar traição de relacionamentos afetivos, mas traição de amizade é o PIOR tipo de traição que podem cometer contra a gente, por isso é que somos seletivos com as amizades, pois somos leais. E quando odiamos, não é ódio, é pior, pois quando há ódio, ainda há sentimento. Nós simplesmente apagamos da memória. Amamos demais, mas não odiamos demais: a indiferença é o ódio do ariano.

Como somos sinceros, não conseguimos controlar isso. Até tentamos rodear, procuramos não magoar, afinal não somos francos, pois a fanqueza machuca, e a sinceridade não. Podemos dizer "palavras duras com voz de veludo", como diz a música, mas cinco minutos depois pensamos "catzo, não deveria ter dito assim..." mas já foi, bola pra frente. Mas isso vale também quando soltamos um elogio, o que é bom, afinal, é verdadeiro.

Somos independentes, e tanta independência, uma hora, se transforma um pouco em solidão. Arianos vivem se sentindo meio solitários, afinal não somos fáceis e por isso ninguém atura muito. Temos consciência disso e procuramos nos bastar, mas chega uma hora que cansa. Então nos tornamos melancólicos, um tanto fechados, um tanto introspectivos. Mas logo passa, e recomeçamos o ciclo. E como é um ciclo, daqui a pouco estamos nos sentindo solitários novamente. E assim vai.

Áries é regido por Marte, o planeta vermelho, o deus da guerra, e daí vem o gosto pela cor vermelha e por uma boa briga. E brigar com ariano é sempre uma boa briga, porque como somos justos, nunca batemos em um oponente caido, e ao contrário do que pensam, não usamos de meios torpes para conseguir o que queremos. Só lutamos com muita intensidade e não desistimos fácil. Mas quando desistimos, desistimos.

E quanto a essa tatuagem aí que vocês estão vendo na minha perna, foi o seguinte: sai de casa pra comprar UM livro e UMA luminária pro meu quarto novo na casa nova (vou falar sobre isso mais tarde). Acabei comprando 3 livros, 3 camisetas, 2 chocolates diets (o plano segue conforme o combinado), e fiz essa tattoo. E como disse, sofri MUITO quando chequei o saldo da minha conta na segunda. E a luminária? Que nada, luz de velas é bem mais romântico. Sabe como é, coisa de ariano...

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Foto: Auto retrato, tocando What's Going On, do Marvin Gaye, no baixo. Tá foda pra tirar essa música.

Ahhh, e parabéns pra Paula Cravo e pro Claudião (dia 26), pra Thalita Froes (dia 27, junto comigo), pro Rodrigo Brizzi e pra Juliana Reis (dia 28), pro Reinaldo Carioca (dia 11 de Abril) e pra todo mundo que eu me esqueci.

quarta-feira, 5 de março de 2008

10. 114kg - MESMA ESPÉCIE


Todos conhecem, ou a maioria das pessoas pelo menos, ou não... enfim, muita gente conhece Frankenstein, o personagem criado por Mary Shelley, imortalizado pelo cinema hollywoodiano por Bóris Karloff, Bela Lugosi e, mais recentemente, há uns 14 anos atrás, Robert DeNiro. A imagem que se criou ao longo dos anos de Frankeinstein é a imagem de Bela Lugosi travestido num monstro vilanesco, descerebrado, motivado apenas pela vingança, gigante e grotesco, concebida pela genialidade louca de Victor Frankeinstein, um brilhante doutor com devaneios de superar a barreira da morte. Mas a história do monstro de Frankenstein é na verdade um maravilhoso e amargo tratado sobre a solidão, sobre a interação com o próximo, sobre nossos preconceitos. O monstro criado por Victor Frankenstein de fato "nasce" grotesco, remendado com partes dos corpos roubados dos cemitérios, um gigante com mais de 2,40m de altura. Um aparte interessante: nada de tempestades de raios com fios ligados ao cérebro do monstro, isso é coisa que o cinema precisa para um melhor efeito visual. No livro, a tempestade existe, mas apenas uma injeção dá vida a ele. Retomando, o monstro de fato nasce com o cérebro revivido, mas vazio de conhecimentos, como todos os recém nascidos. Aos poucos, vai compreendendo tudo e a todos que o cerca. Vai adquirindo conhecimento, aprende a ler, adquire cultura e finalmente, após ser abandonado pelo seu criador, compreende sua condição: ele é único no mundo.

Único, não tem par.

De vez em quando eu penso sobre os relacionamentos das pessoas, revivo meus relacionamentos antigos, observo os finais das relações ou o porque de algumas pessoas continurem juntas mas numa rede de traições (de ordem sexual ou não), brigas tolas e desrespeito mútuo. Fiquei pensando também sobre como algumas pessoas permanecem sozinhas, mesmo tendo oportunidades de se relacionar com alguém, e são ao mesmo tempo tranquilas por fora, mas angustiadas por dentro. Cheguei a conclusão de que, para certas pessoas, o que falta é alguém como elas.

Iguais.

Da mesma espécie.

Eu acredito em relacionamentos que duram pra sempre, até porque eles realmente existem, se você procurar um pouquinho achará exemplos de pessoas que estão juntos a vida toda. Acredito em fidelidade também, respeito, pessoas que estão juntas por objetivos comuns, que são felizes um com o outro. Mas aqui, FELICIDADE, essa que todos lutam por ela, esse que é o mais paupável dos sentimentos, esse estado de espírito, essa sensação de prazer, o sonho que todos querem realizar na vida, é pouco. Porque, por mais que seja difícil achar alguém pra viver com a gente, convenhamos, não é uma tarefa assim tããããããão bicho de sete cabeças, como mostra a cada vez mais crescente população mundial. Você conhece alguém, essa pessoa lhe parece legal por uma série de signos que você inconscientemente identifica nela, ela os identificam em você também, começam a sair, as coisas começam a dar certo, vai ficando sério, vocês se apaixonam, vira namoro, se amam, noivam, se casam, têm filhos, e com uma dose imensa de paciência, braços torcidos, brigas, pazes, resignação, engolição de sapos e pequenas vinganças, sua vida passou, você olha pra trás e vê muita coisa construída, uma vida estável, filhos crescidos, netos, quiçá bisnetos, e chega a conclusão de que sim, você foi e continua a ser feliz. Morre saudável e tranquilo cercado das pessoas que mais te amaram e que você mais amou. Uma morte gloriosa, com choradeira, discursos, palavras bonitas de um padre, um belo e confortável caixão em um cemitério bonito naquele bairro gostoso onde você comprou sua linda casa. Todos no seu enterro também dirão que sim, você foi muito feliz, estará escrito na sua lápide, inclusive: "Aqui jaz uma pessoa que foi realmente feliz."

É bico.

Difícil é achar alguém da sua espécie.

Acredito que só alguém assim nos dá uma vida plena, em todos os sentidos, só ela preencherá cada espaço vazio em você, completará cada lacuna, trará não só felicidade, mas paz para entender os momentos infelizes e força para superá-los. Alguém que pensa como você, que age como você.

Que é você, em outro corpo.

Pequenas diferenças sempre existem em pessoas da mesma espécie, um gosta mais de uma cor, o outro gosta mais de certo tipo de música, um gosta de carne mal passada, o outro nem come carne... ou não, até nessas coisas eles são iguais, mas não é isso que os tornam da mesma espécie. É a maneira igual como enxergam o mundo e interagem com as coisas ao seu redor. É a relação pessoal igual com todos os eventos importantes que fazem parte da vida. A mesma maneira que recebem uma notícia ruim ou boa. A mesma maneira que agem quando estão no fundo do poço, e sobem. A maneira como lutam contra as injustiças, se levantam para defender ou ajudar a quem precisa, e como celebram as conquistas. Pensam a mesma coisa, se comunicam por telepatia, sabem o que o outro está pensando só pela maneira como respiram. Que se amam em cada pequeno ou grande gesto. Que não precisam perdoar, porque reconhecem em si mesmas os mesmos defeitos do outro. Que sejam imortais um no outro.

Iguais.

Essas pessoas existem. Elas estão entre nós, cruzam com a gente pelas ruas, tomam café ao nosso lado nas padarias, pensam a mesma coisa na mesma hora em países diferentes, sentem as mesmas vontades e tomam as mesmas atitudes simultaneamente a milhares de quilômetros de distância um do outro.

Muitas vezes acabamos encontrando essas pessoas de maneira totalmente ocasional, gratas surpresas cotidianas, e o mais comum de acontecer é nos tornarmos grandes amigos. Essa amizade durará para sempre, e mesmo o tempo ou a distância não os separarão. Mas amizade, como eu disse a uma amiga dia desses, não perpetua a espécie. E nem nos aquece de manhã, na cama, nos dias frios. Daí acabamos andando pela cidade tentando nos encontrar em alguém, e com o tempo, não importa quem. E é aí que tudo se complica: acabamos conhecendo alguém, essa pessoa nos parece legal por uma série de signos que nós inconscientemente identificamos nela, ela os identificam em nós também, começamos a sair, as coisas começam a dar certo, vai ficando sério, nos apaixonamos, namoramos, nos amamos, noivamos, nos casamos, temos filhos...

E continuamos sozinhos, mesmo acompanhados. Como diz uma música do Neil Young: "When you get weak / And you need to test your will / When life's complete / But there's something missing still..."

Voltando ao monstro de Frankenstein (no livro, quem se chama Frankenstein é só o doutor; a criatura é chamada de "monstro", "demônio", "aberração"...), ele pede ao doutor que faça um par para ele, uma fêmea, uma igual, um ser da mesma espécie para que ele não se sinta mais tão só. Ele não quer uma mulher qualquer, ele até poderia conseguir, penso cá com meus botões, uma moça cega, sei lá, que não visse sua feição horrenda e que se importasse apenas com o amor que ele tinha para dar, que acreditem, era muito. Não, ele queria um ser igual a ele, que o compreendesse, que tivesse as mesmas emoções que ele, que enxergasse o mundo como ele e seria visto pelo mundo como ele era visto, e então ele sumiria, iria com ela para as florestas tropicais da América Latina para viverem isolados do mundo e em paz. Ao ter seu pedido negado, a criatura conclui seus planos de vingança contra seu criador e se isola nas terras geladas do Ártico. Em um dado momento do livro, ele diz para Frankenstein algo que resume toda sua história: "Quando eu revejo meu terrível catálogo de pecados, eu não posso acreditar que eu sou a mesma criatura que teve os pensamentos uma vez preenchidos com sublimes e transcendentes visões da bela e majestosa bondade. Mas é sempre assim: anjos decadentes se transformam em demônios malignos. Mas até mesmo o inimigo de Deus e do homem tinha amigos e companhia em sua desolação.

Eu estou sozinho."

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Foto: Frankenstein por Rick Baker