quarta-feira, 28 de outubro de 2009

29 - KÜBLER-ROSS E O PROCESSO DE CRIAÇÃO


Elisabeth Kübler-Ross foi uma psiquiatra pioneira nos estudos da morte. Ela morreu em 2004 vítima de uma série de derrames cerebrais, era suíça e morreu no Arizona, e sua maior contribuição científica foi o livro "On Death and Dying" (Morte e o Processo de Morrer), em que ela define 5 estágios do processo de morrer que ficou conhecido como o modelo Kübler-Ross, adotado como um guia para tratamento de pessoas em estado terminal. São eles, segundo a Wikipédia:

1. Negação e Isolamento: "Isso não pode estar acontecendo."

2. Cólera (Raiva): "Por que eu? Não é justo."

3. Negociação: "Me deixe viver apenas até meus filhos crescerem."

4. Depressão: "Estou tão triste. Por que me preocupar com qualquer coisa?"

5. Aceitação: "Tudo vai acabar bem."

Você define uma pessoa como gênio quando um estudo que ela fez se aplica em vários aspectos da vida, não só da morte, no caso desse estudo. Quantas veses numa agência a gente não se sente passando pelos 5 estágios, em que o estado terminal, no caso, era o prazo:

"1. NEGAÇÃO E ISOLAMENTO: “ISSO NÃO PODE ESTAR ACONTECENDO.”

"Eu NÃO tive essa idéia. Caralho, vai dar a hora de entregar! Como eu pude ter criado uma porra dessa? A única! É foda, porque que nessas horas nunca vem uma idéia boa, só vem umas merdas dessa. Tá ruim tá ruim tá ruim, meu, o que esse gato tocando violino no telhado tem a ver com bolacha recheada? Vou lá pra salinha pensar mais...

"2. CÓLERA (RAIVA): “POR QUE EU? NÃO É JUSTO.”

"FILHADAPUTA de atendimento de merda, vai tomá no cu, o Zé é foda, essa porra desse briefing não explica bosta nenhuma e eu tenho que ficar me fodendo nessa merda, o cara não sabe escrever não!, puta job de bosta, até o estagiário tem um melhor que o meu, não tem lugar na agência pra criar, o que esse povo gosta tahto de futebol??? Trabalhei ontem até 3 da manhã e os caras me vêm com essa porra de hoje pra hoje, todo mundo vai embora cedo, tão de marcação comigo, esse viado do diretor de criação não gosta de mim, é por isso, e ó o título que o outro me passa, "Um dó-ré-mi de sabores", FODA-SE, vai o que tem, vou lá mostrar essa merda pro diretor de criação.

"3. NEGOCIAÇÃO: “ME DEIXE VIVER APENAS ATÉ MEUS FILHOS CRESCEREM.”

– Um gato tocando violino no telhado?
–... é, tipo...
– Mas porque um gato tocando violino no telhado...?
–... é... tipo, quando você come a bolacha, você fica tão bem que até ouve música... e ela vem pelos meios mais inusitados, sabe?
– Sei...
– ...então, mas pode ser um cachorro também, e em vez do telhado ele pode estar ali na rua, no meio das pessoas mesmo, cachorro de repente é mais legal, eu coloco uma luz urbana...
– Luz urbana...
– ...é, tipo... mais assim, vindo do poste... até fica meio como um holofote, voltado pra ele....
– Quem fez o título?
–... foi o Zé...
– Hmmm... o título é bacana... pra quando é esse anúncio?
–...pra hoje...
– Meu, não vamos perder tempo, faz um all-type e manda, não dá tempo de produzir.
– Mas você curte a idéia??
– O título é bom, faz um all-type, estoura ele na página, põe um halo e um packzinho e manda.

"4. DEPRESSÃO: “ESTOU TÃO TRISTE. POR QUE ME PREOCUPAR COM QUALQUER COISA?

Carai de vida, viu... não dá pra fazer nada, não dá pra ir no cinema, não dá pra cumê minha muié, só fico aqui trancado trabalhando, trabalhando, trabalhando, só sai bosta... não cuido dos meus projetos pessoais, não vou pra academia, não saio, fiquei o dia inteiro leiautando essa porra, mó trampo pra achar referência e o cara me vem com all-type, preciso de um plano B... ahh, que se foda, vou fazer isso rapidinho e me mandar, se o cliente não se preocupa vai eu me preocupar?

"5. ACEITAÇÃO: “TUDO VAI ACABAR BEM.”

Ahh vai, até que não ficou mal, as bolachas no lugar do "o" ficaram bacaninhas, o pack ficou com uma composição legal... o título desse viado até que não é ruim mesmo, deu um toque engraçando pro anúncio, vai ficar bacana na revista, diferente, inusitado... pelo menos consegui salvar a luz urbana, agora é só dar uma queimadinha aqui mais em cima e tal... Caramba, quem tá ligando uma hora dessa??
– Alô? Fala Zé... que? O cara cancelou o anúncio? Vai sair com o anterior? Porra mas... mas... tá. Tá bom... é, agora com mais tempo, de repente a gente manda o gato...

terça-feira, 13 de outubro de 2009

28 - RÉQUIEM PARA UM AMIGO


Bastardos Inglórios. Esse foi o último filme que meus óculos viram. Comigo, pelo menos.

Após muita procura, eu comprei esses óculos na C&A do Shopping Morumbi por R$ 39,90 na promoção. A princípio, eles eram uns óculos de sol, escuros, ali no meio de muitos outros óculos baratos na prateleira da loja. Quando vi, pensei "é um diamante bruto...", e após tuná-lo com uma lente de acrílico anti-reflexo com meio grau de miopia de um lado, e meio de astigmatismo do outro por R$ 320,00, lá estava a perfeição traduzida em uma armação de acrílico preto fosco, com uma lente que de tão transparente, parecia que não havia nada. O encaixe perfeito no rosto, o design, a aerodinâmica transformaram esses óculos em uma peça única, reconhecido internacionalmente como "os óculos do Tim". Mas eles não eram apenas um par de óculos, eram a extensão da minha própria personalidade. Eles chamavam a atenção tanto quanto eu mesmo, tinham presença.

Esses óculos viram muita coisa, me fizeram apreciar inúmeros filmes, inúmeros shows, inúmeros corpos nús de mulheres fantásticas, me mostraram o caminho correto e qual o ônibus certo a pegar, em vez de tentar ver ao longe qual era a linha e, quando o ônibus estava numa distância em que eu conseguia enxergar, já era tarde demais. Com eles, eu não perdia mais o busão e também não tomava mais chuva na Marginal.

Quando eu os comprei, eu estava na extinta BatesBrasil. Eles me acompanharam pela Synapsys, Lepera, para algumas filmagens como assistente de arte com o Marcão na produtora Pródigo, fomos pra Portugal, conhecemos Lisboa, Sintra, Cascais e tantas outras, trabalhamos na Fischer Portugal, depois na Eugenio, fomos para Bahia, Aracaju, Natal, Rio, Argentina, trabalhamos na Átomo, na Central Business e tantos outros lugares maravilhosos.

A haste direita se quebrou por uma bobagem: ao entrar em um banheiro apertado numa pequena pizzaria do meu antigo bairro em Guarulhos, eles estavam no bolso por algum motivo, e quando entrei trôpego pela porta, encostei sem querer na pia do banheiro, bem onde eles estavam. A haste quebrou sem chance de conserto, e como havia quebrado já uns 5 óculos em um ano antes dele, coloquei fita isolante preta para segurá-la e assim ficou por 6 anos. A fita na haste da esquerda era apenas para equilibrar o design.

Eu deveria ter trocado a fita-isolante que segurava a haste antes... Após a sessão no HSBC Belas Artes, eu tava descendo as escadas segurando, em uma mão, duas garrafas d'água, e na outra, um monte de lixo, enquanto minha amiga (amazing friend) corria na frente, apertada pra ir ao banheiro. Meus óculos, como tinham muita personalidade, clamava por ser livre, e pelo caminho a haste começou a se desprender e ficou pendurada apenas pela orelha, e como a única mão que tava mais livre era a que tava com o lixo, eu a segurei com ela. E pensando que teria que tomar cuidado quando fosse jogar o lixo no lixo, já que a "perninha" dos meus óculos estava ali no meio. E foi assim pensando que joguei o lixo no lixo com a haste e tudo. Confesso que até dei uma reviradinha no lixo ali pra ver se achava de volta, mas além de ter ido parar lá no fundo, tava meio vexatório eu ali revirando o lixo no meio de todo mundo, de modo que fui pra balada com minha amiga com meus óculos faltando uma perna mesmo.

Lá chegando, pedi ao garçom que me dedicasse uma mesa, e mesmo com a casa cheia ele me alertou que, ao sair da mesa pra dançar, que deixasse alguma bebida ali: era o código da casa para que ninguém pegasse nossa mesa. Assim fiz, e pra provar que era sério mesmo, deixei meus óculos monoperna em cima da mesa, ao que minha amiga disse "Você vai deixar seus óculos aí?", e eu "Sim... melhor, se deixarmos só as bebidas, alguém vem, senta na mesa e ainda bebe", e ela "Mas e se sumirem?", e eu "Vai ser um ótimo fim pra eles. Desaparecidos na balada. E se eu os esquecer, não volto para buscá-los."

Fomos dançar e beber, após algum tempo nessa função, voltamos à mesa, e qual foi nossa surpresa que eles ainda estavam lá. A balada não tava do jeito que a gente queria e fomos embora, bêbados e nos pegando no banco de trás do táxi naquele rolê bacana por São Paulo a noite, a caminho de outra balada. Ela cogitou de irmos pro Astronete, ali pela região da Augusta. Ao descermos do táxi, ela notou que eu finalmente estava sem os óculos. O motorista tinha andado alguns poucos metros e ainda pode ouvir meu grito de "CHEFE! MEUS ÓCULOS!" Ele parou o carro e disse "HEINNN???", e nesse ponto minha amiga disse "Hey, você disse que se os esquecesse, não voltaria para buscá-los."

Palavra dada é palavra dada.

Apenas disse ao chauffeur "Nada não, achei que tinha esquecido alguma coisa..."

Ela não acreditou que eu havia feito isso, mas eu disse que era um bom fim para eles: passeando por aí de táxi, sem pagar nada, pelas ruas de São Paulo.

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Mais sobre meus óculos aqui, no primeiro post do blog

terça-feira, 6 de outubro de 2009

27 - CAOS REINA


Se eu encontro essa mulher cagando assim no meio da floresta, eu chuto e saio correndo. O lance é que, como eu disse post anterior ao anterior, eu sou meio impressionável com esse lance de filme de terror. Antes eu tinha uma porrada de pesadelos com a menininha do exorcista, que se chama REGAN, e não MEGAN (valeu Nanda e Vandi!!). Agora eu tenho medo da Charlotte Gainsbourg. Não é bem medo... é só um leve desconforto, hehehe. O filme merece ser visto, viu, o tal ANTICRISTO. Fomos eu e mais 4 marmanjos aqui da agência, o Vandi, o Chad, o Ton e o Rony. No outro dia, os comentários eram de que "não é que dá medo, mas eu dormi meio mal essa noite", hahahaha! E é isso mesmo, o filme é sinistro, e não de dar susto. Eu dormi mal na primeira noite. Depois passou. Depois comecei a ter pesadelos com a mulher e com a cabana e com a floresta. Teve um dia que eu tava quase dormindo, ali naquele limbo entre dormir e acordar, com a janela aberta pra entrar um ar e tal, meu, de repente eu ouço um berro na janela "AHHHHHH', ou mais pra "RHHHHHÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁ", sei lá, uma coisa assim, mas meu!, tomei um susto do caralho, grudei na cama por uns 5 segundo pensando "fudeu fudeu fudeu a mulher tá na janela!", aí fui voltando ao normal pensando "vai meu, levanta, fecha a porra da janela que não é nada, é coisa da sua cabeça". Só estiquei a mão, fechei a janela sem olhar pra fora e voltei a dormir, fico sem ar mesmo, foda-se. Na verdade, como lá tem muito passarinho, acho que um deu meio que um rasante perto da janela, fazendo um barulho, ou era morcego, sei lá. Mas na minha cabeça sonolenta era a Charlotte Gainsbourg berrando pra mim. Alguns dias depois, eu tive o pesado mor: em uma cena, ela tá fora da cabana, deitada na grama de pernas abertas se masturbando furiosamente. Aí, no meu "sonho", eu tava chegando perto dela nessa cena, e quando me aproximei, ela virou o rosto pra mim e era quem??? A PORRA DA REGAN!!! Pulei da cama acendendo a luz pensando "Meu!!! Híbrida agora??? Tá de sacanagem né???" Achei que ia comer a Charlotte, sem chance. Aliás, a menina do exorcista (se eu pronunciar o nome dela 5x, ela aparece pra mim, tô fora) também curtia se masturbar. Como o diabo é fetichista, né?

Abaixo, segue a minha própria resenha do filme:

ANTICRISTO
Direção: Gus Van...ops! Lars Von Trier
Com o pinto do Willen Dafoe e a xana da Charlotte Gainsbourg
Quanto você dá, Aracy de Almeida!?: Vai levar um pau no pau!

Após perder o filho, um casal vai para uma cabana na floresta pra superar a perda.
Lá, entre animaizinhos doces e falantes, a mulher entra numa tpm fudida e azucrina o coitado do marido que, sem um boteco por perto pra fazer a fuga padrão, descobre por ele mesmo o quanto é perigoso tentar fazer qualquer coisa nessas horas que não seja só repetir "ã-hã, ã-hã" e ficar o mais longe possível. Sifudeu, Duende Verde!!!

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Foto: Charlotte Gaisbourg em ANTICRISTO, de Gus Van... ops! Lars Von Trier.

26 - OLIMPÍADAS 40 ANOS


Quando as Olimpíadas aportarem no Rio de Janeiro, em 2016, eu estarei com 40 anos. 40 anos. Só mesmo uma Olimpíada pra fazer a gente pensar no futuro. É esquisito pq, quando a gente fala em 2016, parece que vai ser daqui há 1 mesinho só, acho que é resquício da empolgação da Olimpíada passada, logo ali, em 2006. A gente ainda era meio moleque, não tanto quanto agora, mas foi tão pertinho... 2016 não tá tão pertinho, é daqui há 7 anos. E eu aqui. Não tenho carro, não tenho casa própria, não tenho seguro saúde, não tenho vontade de ter filhos (casar eu até penso... assim, meio an passan...). Mas ok, tenho um monte de amigos na mesma que eu, mas caralho, quando as Olimpíadas chegarem, eu vou tá com 40!!! Putaqueupariu. Meu irmão mais velho vai tá com 50! Meu sobrinho mais novo vai tá com 7, quase 8, e eu 40!! E pior, sem planos pra ganhar uma grana com as Olimpíadas. Pensem nisso, é oportunidade pra todo lado, a gente precisa dar um jeito de ganhar uma grana, eu principalmente, afinal, vou estar com 40! ¡Caray!

Não que seja um problema ter 40, o problema é que eu nunca tinha parado pra pensar nisso, saco! Esse negócio de Olimpíadas só vem pra foder com a cabeça da gente. Eu lancei a idéia aqui, e um mandou "Pô, vou estar com 34... provavelmente com um filho..." Cacete Chad! Eu tenho 33 e não me vejo criando nem um cachorro, quanto mais filho.

Pelo menos, careca eu já tô.

O que eu fico pensando é o seguinte: eu, por mim mesmo, não sei o que vou estar fazendo aos 40, mas o COI já decidiu por mim que eu vou estar no meio de uma Olimpíada! Ô COI, féladaputa, tá de sacanagem né? Gente pra caralho, gringo pra todo lado, altos esquemas de segurança, correria da porra e eu tendo que lidar com o fato, ainda, de estar com 40. É muita coisa pra gerenciar. Eu deveria estar tranquilamente me preparando pros 40 com calma, trampando, construindo minhas coisas na manha... agora virou uma urgência de preparar minha idade e ainda ganhar uma grana com as Olimpíadas, porque eu VOU QUERER ganhar uma grana né, claro. Só que é muita coisa pra pensar de uma hora pra outra, meu! As pessoas esperam muito da gente, um comportamento, uma estabilidde, sei lá... aliás, é até normal isso, a gente tem que ter mesmo, mas eu não esperava por essa bomba olímpica que me veio à cabeça agora, às 11:30 da manhã de uma terça-feira um tanto ociosa na agência. Eu tava indo pro banheiro quando isso me veio, e logo já tava fazendo o número 2 pensando no número 40. 4040404040404040404040. É uma bosta, porque essa sensação vai me acompanhar pelos próximos 7 anos, e daí, os preparativos para as Olimpíadas serão os preparativos para essa data fatídica. E quanto mais próximo for ficando, duas vezes mais tenso. Não vai ter como se esconder, não vai dar pra ligar a tv ou sair pra tomar um chopp num boteco qualquer sem ter o tempo todo um monte de faixas verde e amarelas e a comoção nacional me lembrando que eu vou ter 40 anos. Cada notícia, cada post de blog, cada tweet, cada rua pintada com tinta latex vai me lembrar que eu preciso ter um carro, uma casa, mulher, filhos, conta bancária decente e baixo colesterol.

Quer saber? Eu vou comprar é uma Harley. E sumir do mapa, que se foda os 40!

ROQUENRRÔU!!!!!