terça-feira, 22 de julho de 2008

16. 121kg - THE MAN WITH NO PLAN.


Qual o problema em não ter um plano?
Porque, afinal de contas, eu não posso viver um dia de cada vez, e ir fazendo as coisas na medida em que elas forem acontecendo, sem pensar em como vai ser no futuro? Pô, eu definitivamente não sou um cara que faz planos, eu nem sei por onde começar a fazer um, eu nunca fiz e acho que nem vou fazer. No máximo combinar alguma coisa, um cinema daqui há uma semana, ou uma viagem pra daqui há um mês, sei lá, mas o planão mesmo, em tal ano estar em tal ponto da minha carreira, casado ou namorando, com filhos ou filho ou não, ter casa, apartamento, ou um carro, ou sei lá, qualquer porra dessa... eu não tenho que ter um plano. Seria bom que eu tivesse, lógico, a maioria das pessoas tem um, mas eu nasci com uma anomalia, uma disfunção hormonal, nasci com falta da glândula que produz a substância que ativa no cérebro a necessidade de planejar minha vida. Acho que um dia eu vou ter todas essas coisas, porque no final das contas, eu sinto falta disso também, eu quero, acho, me casar um dia, seria legal até ter filhos, e com certeza uma casa e um carro bacana, de vez em quando eu páro pra pensar nisso e até acho que seria legal, mas por hora, sou como aquela música do Raul Seixas que diz "não sei onde eu tô indo, mas sei que eu tô no meu caminho".

O foda de não conseguir fazer planos é que isso não me impede de me envolver com as mulheres, e essas sim, têm planos. São umas máquinas de fazer planos, têm a tal glândula DESTE TAMANHO, enfiada em algum lugar entre o coração e o cérebro, e elas adoram me enfiar no meio dos planos delas, como se fosse um favor que me fazem e nem me perguntaram porra nenhuma se eu queria ou não. Ou pior: achavam que era eu quem tinha que fazer o plano e colocá-las nele, dando um belo exemplo de que, por mais liberação e independência que consigam, ainda são bem submissas aos desejos e planos dos homens, na verdade uma máscarazinha pra ter uma amostra de segurança, afinal se eu digo que daqui há 10 anos vou estar com elas ainda, é sinal de que vale a pena continuar, quando na verdade não enxergam um palmo do nariz os gestos no presente que gritam que SIM, estou com elas. E estarei daqui há 10 anos, se cada dia do agora, do já, do presente for bom. E nem precisa ser bom todo dia, na verdade, porque não é mesmo, e é isso que tempera a vida, alternando os momentos bons e os ruins.

Tô falando assim porque minhas duas ex namoradas me jogaram na cara, com a mesma frase, que faziam planos pra gente, eu eu fazia planos pra mim, e que elas nunca estavam inseridas nos meus planos. MAS CARALHO: eu não tô ali? Não tô junto? Não tô dando apoio de todas as maneiras possíveis? Não tô sendo presente? Mesmo trabalhando numa profissão que exige pra cacete, eu sempre, SEMPRE dou um jeito de estar junto, tô sempre gerenciando meu tempo pra ficar junto da pessoa que eu gosto e tô envolvido. Tem hora que eu acho uma bosta me envolver com alguém, porque quando eu me envolvo eu me envolvo MUITO (vide o texto dos Arianos), eu amo MUITO, mas eu tenho sim um desprendimento que assusta: eu não sou ciumento, eu não sou de ficar cobrando ciúme, não sou de ficar perguntando onde tava, com quem tava, que horas tava, acho que as pessoas são livres pra ir e vir MESMO, acredito de verdade que a distância não separa as pessoas, embora seja difícil realmente, mas isso não quer dizer que eu não ame. Só que quando tudo vira uma merda, e eu resolvo que é hora de dar um basta, é um BASTA: seco como tem que ser. E daí tomo na cara que eu não tava realmente envolvido, que eu não amava de verdade, afinal ninguém que ama de verdade termina tudo de uma hora pra outra e segue a vida assim, tranquilamente. E tudo o que eu fiz, tudo o que eu lutei, tudo o que eu guardei pra mim, todo o tempo que eu fiquei ao lado nos momentos difíceis são convenientemente esquecidos, apagados e deletados: toda história tem que ter um vilão, e normalmente, num relacionamento, o vilão de agora era o herói de ontem.

Já assumi o posto de vilão duas vezes. Tô de saco cheio, à merda todo mundo.

Eu sou um cara que vive no presente, porque é o que a gente faz no presente que dita as regras de como o futuro será, e o futuro é daqui a cinco minutos, então eu quero viver agora, o momento, quero que as coisas sejam boas já, e sendo elas boas já, serão daqui a cinco minutos também, sejam esses cinco minutos um ano, 10, 20 ou só cinco minutos mesmo.

O futuro é um monte de presentes acumulados.

Fora o egoísmo disfarçado nisso, afinal, qual o problema de fazer um plano pra mim, e não colocar a outra pessoa nele? Porra, a vida é minha, dá licença? E quem disse que eu quero estar metido em algum plano da vida da outra pessoa, e quem disse que ela não pode fazer um e não me colocar nele? Eu poderia viver tranquilamente com alguém que vive sua própria vida separada da minha, mesmo estando junto comigo. É que até hoje ainda impera a visão romanceada demais de que quando duas pessoas resolvem ter um relacionamento elas viram uma só, quando na verdade não importa o que os poetas dizem, duas pessoas serão sempre duas pessoas, dois grandes universos diferentes que se não forem bem compreendidos, acabam uma hora se chocando. Heh, é impressionante como isso não é colocado nos planos de alguém, que uma hora vai dar merda.

E dá. E quando dá, ó, TOP TOP, os planos indo por água abaixo, porque no final das contas não dá pra planejar imprevistos. Pois eu prefiro jogar no time do imprevisto, e ele me trás gratas surpresas. Como dizem os Titãs, "o acaso vai me proteger enquanto eu andar distraído."

E é assim que é, andamos eu, o imprevisto e o acaso de mãos dadas, firme e forte: à merda com os planos.

Foto: Christopher Walken - "The Man With The Plan", em Coisas Para Se Fazer Em Denver Quando Você Está Morto.

2 comentários:

Anônimo disse...

este é o seu jeito, se vc é feliz assim, não tem por que se sentir culpado, se é que se sente...
Quando envolvido em um relacionamento é super saudável que vc tenha seus planos e projetos pessoais, mas quando juntas as pessoas fazem planos em conjunto também, é natural e saudável também. Não seja tão duro consigo mesmo e com os outros. As vezes as situações apenas não são apropriadas.
Fique bem, espero que tenha mais sorte nas próximas tentativas, no fim vai dar tudo certo.
um abraço
Mara

Anônimo disse...

Então Sr. Amor Liquido!
é natural incluir quem se ama nos seus planos, seja sua mãe, seu namorado ou o seu gato! hunpf!