quarta-feira, 3 de novembro de 2010

36 - SUBWAY BLUES II


No domingo, dia da eleição, eu tava indo pra Guarulhos pra votar, e como de costume peguei o metrô na estação São Joaquim sentido Tucuruvi, pra de lá pegar um ônibus até a Vila Galvão, onde eu voto. Fiquei ali parado em pé ouvindo o acústico do Jay-Z (H TO THE IZZ-O, V TO THE IZZ-A!!) e, como sempre, minding my own business, até que na estação da Sé ocorreu um evento interessante. No meio da muvuca que desceu pelo lado esquerdo do trem, um cara ficou do lado de fora olhando uma garota sentada bem na minha reta. Ele era um militante petista, com barba rala, boina, camisa vermelha com a estrela do PT, uma bermuda jeans e sapatos docksides. E moça tava com um vestido florido azul e uma sandália rasteirinha, ela era bonitinha bagaray, parecia que tava indo pra uma festa na roça. O lance é que o cara ficou ali olhando pra ela, com um sorrisinho bobo na cara, e ela olhava pra ele meio sem graça, aí desviava o olhar, depois olhava pra ele de novo, aí olhava pro lado, e ele lá, imóvel, parado, sorrindo, olhos fixos nela sem se importar com a galera que olhava pra ele de dentro do metrô (paixão faz isso com a gente né, é foda...). Ficou assim o tempo todo em que o metrô ficou parado pras pessoas descerem e as outras subirem, e quando finalmente as portas se fecharam, ele deu um tchauzinho pra ela, ela deu um tchauzinho pra ele, ele mandou um beijo pra ela, ela sorriu, e o metrô se foi.

Aí aconteceu um lance fantástico.

Quando o metrô saiu da estação, ela puxou caderninho de dentro da bolsa e abriu em uma determinada página. Deu pra sacar que era um diário, e quando ela abriu, tinha uma série de coisas escritas em vermelho do lado esquerdo, e uma série de coisas escritas em azul do lado direito, e eram duas listas. E ela pegou uma caneta vermelha e escreveu do lado esquerdo assim:

"Eu sempre fico sem graça pelo jeito bobo com que ele olha pra mim"

(Um aparte: se você acha que foi uma invasão de privacidade eu ali olhando a menina escrevendo uma coisa pessoal dela no diário dela, em minha defesa eu só posso dizer pra você se dirigir ao guichê 2 e fazer uma reclamação formal em três vias com firma reconhecida, ok? Beijo, me chupa.)


...falávamos...?


Ahh sim. Ela escreveu em vermelho do lado esquerdo do diário "Eu sempre fico sem graça pelo jeito bobo com que ele olha pra mim", e aí, metodicamente pegou uma caneta azul e escreveu do lado direito do diário:

"O jeito bobo como ele olha fixo mim me faz me sentir especial." Ela escreveu assim mesmo, 'me faz me sentir especial', parece estranho essa construção, mas acho que tá certo. E aí meu, tinha mais um monte de coisas que ela não gostava dele em vermelho e outro monte de coisas que ela gostava dele em azul. Caraaaay véi, fiquei de cara, fiquei mesmo impressionado com, além do romantismo, a praticidade da mina em fazer uma lista de 'gosto/não gosto' ali, assim tão bem definida, escrita lado a lado para facilitar a comparação. Se você for um pouco pessimista, pode até ser que seja uma maneira meio fria de avaliar uma pessoa, mas sei lá... não sei. Todo mundo avalia todo mundo de alguma maneira. Ela deve ter os motivos dela, um lance assim ou é inocente demais, ou é coisa de gato escaldado. Mas uma coisa é certa, o lado azul tava vencendo, e eis que isso é bom.

Esse lance durou até a estação Carandiru, e ela desceu na Jardim São Paulo, e eu desci mais duas depois, no Tucuruvi, com o Jay-Z berrando no mic "Ain't no loooooove, in the heart of the cityyyeeahh"...

Calaboca, Jay-Z! Cê num sabe de nada, mano.

3 comentários:

Ana Choueri disse...

Poats... Anotei.

Começando errado tudo da errado!!! disse...

muito legal tudo isso que vc escreve... amei

Anônimo disse...

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